Ser ou não ser? Mas, essa não é a questão. O ponto aqui é parecer ser. E isso o Sandero GT Line sabe como fazer. A série especial do hatch, realmente, tem jeitão de esportivo. Porém, um breve passar de olhos já é suficiente para notar que ele é diferente. Por fora, as rodas pretas, faróis com máscara negra, adesivos estampados na carroceria, entre outros detalhes chamam a atenção. E uma espiadinha no interior já é suficiente para perceber que ele traz uma série (e de série) de itens e acabamentos típicos de um carro com personalidade esportiva. Bancos e painel tem cor escura, que contrasta com os detalhes chamativos em vermelho espalhados pelo habitáculo – até o cinto de segurança é dessa cor. O quadro de instrumentos também é diferente. O contagiros possui novo grafismo e números maiores, como se quisesse insinuar que há esportividade por ali.
Mas nem tudo é o que parece. Esportividade, no caso do GT Line, é uma questão meramente estética. E ponto. Mas a Renault não esconde isso. A proposta da fabricante francesa foi, justamente, unir os predicados de seu modelo mais vendido no País a um visual esportivo. Isso quer dizer que a mecânica e suspensão da versão GT Line não traz novidades em relação ao restante da linha. Apresentada na última edição do Salão do Automóvel de São Paulo, em outubro do ano passado, a série GT Line tem preço sugerido de R$ 43.590. Por esse valor, o modelo oferece um farto pacote de equipamentos de série, deixando apenas os freios ABS e a pintura metálica na lista de opcionais.
De novembro de 2010 a abril deste ano, a Renault comercializou 2.118 exemplares da edição especial, ou seja, uma média mensal de 353 unidades – a expectativa inicial era de vender 300 carros/mês. Embora a série não seja limitada em volume, sua produção tem prazo de validade e está prevista para se encerrar no final deste mês. O Carsale experimentou o GT Line na cidade de São Paulo e também avaliou o desempenho do hatch na estrada. Confira abaixo mais detalhes e impressões de como anda o Sandero de visual incrementado.
Tunado de fábrica
Gosto é uma questão de opinião. Mas se você é daqueles que apreciam um visual diferenciado, acabamentos exclusivos, gosta de carros tunados, o GT Line tende a agradar. Ele tem cara de carro customizado, mas saí de fábrica desse jeito, com todos os atrativos estéticos de série. Ao contrário de modelos à venda, que possuem adesivos para personalizar a carroceria como opcional, no GT Line não é preciso pedir, eles já vêm de série colados nas laterais entre o para-lamas e as portas dianteiras e na tampa traseira. O hatch é oferecido em quatro opções de cores: vermelho (como o exemplar testado e fotografado pelo Carsale), branco, preto e prata, com maçanetas pintadas na cor do carro. Seja qual for a escolha, as rodas de 15 polegadas permanecem pretas, assim como a moldura do farol de neblina, aerofólio e retrovisores – estes dois últimos são brilhantes.
Por dentro, a cabine é quase monocromática, com alguns plásticos brilhantes no painel central e portas. Costuras vermelhas aparentes no volante, manopla do câmbio e assentos, completam o visual caprichado. Por falar em bancos, eles são um dos destaques do interior. Embora não sejam estruturalmente esportivos, aparentam ser. O revestimento usado é exclusivo da versão e há a gravação GT Line no apoio de cabeça dos assentos dianteiros.
Completão, traz lista de série à la chineses
Assim como os carros de entrada chineses, que estão apostando na lista de série recheada para tentar brigar com os populares nacionais, a boa oferta de equipamentos do hatch francês também funciona como chamariz. Todo GT Line já saí de fábrica com airbags para o motorista e passageiro, ar-condicionado, direção hidráulica, travas e vidros dianteiros elétricos. Computador de bordo, CD player reprodutor de MP3, com comandos na coluna de direção e faróis de neblina também fazem parte do pacote. Para deixá-lo completão, basta desembolsar R$ 1.000, valor cobrado pela instalação do sistema de freios ABS – este é o único equipamento opcional disponível.
Embora a cesta de itens de série esteja acima da média, comparada com outros compactos de entrada nacionais, o modelo peca em alguns detalhes. A ausência de regulagem elétrica dos retrovisores e a falta de comandos elétricos nos vidros traseiros não convêm com o nível de equipamentos do carro. E como já foi falado, não há opcionais, o que torna impossível qualquer tentativa de deixar o modelo ainda mais equipado.
Como anda o GT Line?
Para responder a essa pergunta e outras mais, tive a oportunidade de rodar com o hatchzinho de visual esportivo por cerca de 1.000 quilômetros. Os trajetos incluíram ruas movimentadas (e esburacadas) da cidade de São Paulo e região do ABC Paulista, além de estradas que ligam a capital ao litoral norte do estado. Aproveitei os diferentes locais por onde passei para realizar um ensaio fotográfico do GT Line em cenários distintos. Os cliques podem ser vistos na galeria abaixo. O primeiro contato com o GT Line foi positivo. Não só pelo fato do visual ser diferenciado. Confesso que ao entrar no veículo, pela primeira vez, a diferença de aparência do habitáculo surpreendeu. Além disso, embora o acabamento do interior seja repleto de peças plásticas, a qualidade de montagem e dos materiais deve ser elogiada. As costuras aparentes de bancos e volante também são bem feitas.
Mas antes de ser incrementado, é fundamental que o carro tenha bom desempenho. Então, respondendo de forma direta à pergunta desse tópico, o Sandero GT Line anda bem. Equipado com o motor 1.6 litro 16V Hi-Flex, o hatch responde de forma satisfatória no trânsito da cidade. O conjunto oferece 112 cavalos de potência abastecido com etanol, e 107 cv, com gasolina, aos 5.200 giros. Já o torque 15,5 kgfm (etanol) e 15,1 (gasolina) são despejados por inteiro aos 3.750 rpm, o que torna o GT Line capaz de boas acelerações e retomadas.
Não é o caso, mas se este Renault tivesse a pretensão de oferecer uma dirigibilidade de esportivo, a transmissão acabaria com esta possibilidade. O câmbio é totalmente antiesportivo, com relações de troca longas, embora os engates das marchas sejam precisos. Já a embreagem é um ponto negativo. Ela é longa e faz com que o condutor tenha que pisar até o fundo para realizar as trocas. Em princípio, essa característica incomoda, mas depois de algum tempo no pára e andado trânsito, fica evidente que a embreagem vai acabar cansando a perna. E foi o que ocorreu.
A suspensão, por outro lado, merece elogios. Seu acerto é feito para proporcionar conforto, portanto ela não é totalmente dura, nem mole demais, podendo ser classificada como “na medida”. O conjunto consegue absorver os impactos dos pisos irregulares e até algumas buraqueiras, sem causar desconforto para quem está a bordo. Ao mesmo tempo, nas curvas mais acentuadas da estrada, em velocidades acima dos 100 km/h, a suspensão garantiu a boa estabilidade do hatch. Aliás, pela estabilidade, o veículo ganha mais um ponto positivo.
Porém, se a suspensão não é motivo para irritar os passageiros, o isolamento acústico falho cumpre este papel. É inevitável não escutar o ruído do motor dentro da cabine, principalmente, quando em velocidades mais altas. Na estrada, por exemplo, a saída para disfarçar o barulho foi ligar o rádio e curtir uma música em um volume mais alto. Por falar no rádio, o equipamento é simples, mas funcional. É possível controlá-lo utilizando os comandos localizados na coluna de direção, sem ter que tirar as mãos do volante. Mas para abrir ou fechar os vidros elétricos não há muita facilidade. Os botões de controle ficam posicionados no console central.
No geral, a posição de dirigir do Sandero se manteve agradável. O que agradou ainda mais foi o espaço interno, um dos atributos de mais destaque do modelo. Em um dos trajetos levei quatro adultos no carro. Todos acharam o carro espaçoso. Compacto, o Sandero só é na classificação de sua categoria, pois quem anda no carro tem a sensação que sobra espaço. Vale destacar ainda que os 320 litros disponíveis no porta-malas acomodou adequadamente a bagagem de todos os ocupantes.
Confronto: aparência x personalidade
Uma avaliação sucinta do GT Line aponta duas coisas: esta série tenta parecer um carro esportivo, mas não é. Seu desempenho e dirigibilidade permanecem iguais aos da versão regular do Sandero. Após compreender que o GT Line foi desenvolvido com o objetivo único de oferecer aos consumidores uma estética esportiva, somando esta característica as qualidades pelas quais o carro-chefe da Renault do Brasil já é conhecido, fica fácil defini-lo. Trata-se de um carro de aparência invocada e personalidade mansa. Sendo assim, ele cumpre exatamente seu propósito.
Galeria de fotos clique aqui.
**Fotos: http://carsale.uol.com.br
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