Modelos da JAC Motors quebram o preconceito do consumidor com números significativos de vendas e qualidade acima do esperado, mas a mecânica ainda é desconhecida no mercado independente
Fernando Lalli e Carolina Vilanova
Em março deste ano, a chinesa JAC Motors chegou fazendo barulho no Brasil. Com uma ação publicitária massiva e 50 concessionárias inauguradas simultaneamente, a montadora apostou alto para se estabelecer no mercado. Claro que o apelo do produto faria a diferença no sucesso da empreitada e, no caso, o hatch J3 e sua versão sedã J3 Turin caíram no gosto de muita gente, chegando já em seu primeiro mês ao 3º lugar nos emplacamentos entre os compactos Premium na cidade de São Paulo, à frente de modelos bastante conhecidos como o VW Fox e o Renault Sandero.
Em março deste ano, a chinesa JAC Motors chegou fazendo barulho no Brasil. Com uma ação publicitária massiva e 50 concessionárias inauguradas simultaneamente, a montadora apostou alto para se estabelecer no mercado. Claro que o apelo do produto faria a diferença no sucesso da empreitada e, no caso, o hatch J3 e sua versão sedã J3 Turin caíram no gosto de muita gente, chegando já em seu primeiro mês ao 3º lugar nos emplacamentos entre os compactos Premium na cidade de São Paulo, à frente de modelos bastante conhecidos como o VW Fox e o Renault Sandero.
Para conquistar o consumidor e vencer o preconceito contra a sua nacionalidade, o J3 é vendido em apenas uma versão de acabamento, reunindo em seu pacote de equipamentos freio ABS com EBD, airbags e direção hidráulica de série, itens que em quase todos seus concorrentes são encontrados apenas como opcionais. Os preços competitivos (R$ 37.990 para o hatch e R$ 39.990 para o Turin) e a garantia total de 6 anos sem limite de quilometragem também foram fatores decisivos para o seu sucesso. Na esteira do bom momento, a empresa colocou em pré-venda a minivan J6, que, de acordo com a JAC, teve 600 unidades reservadas mesmo sem a possibilidade de test-drive.
A empolgação da montadora com o mercado brasileiro é tanta que nem a polêmica alta do IPI mudou os planos da JAC em se estabelecer definitivamente no país com uma fábrica própria na Bahia. De acordo com o presidente da marca no Brasil, Sérgio Habib, serão investidos cerca de R$ 900 milhões na unidade fabril, que deve ser inaugurada em 2014.
Mas será que a aceitação inicial do mercado teve razão de ser? Afinal, carros de outras marcas chinesas nem passam perto da unanimidade entre os consumidores justamente pelos defeitos que surgem naturalmente de empresas que vêm um país sem tradição automobilística forte: rede de atendimento limitada, falta de peças de reposição e até falta de qualidade de construção no veículo, o que acaba se refletindo em problemas futuros. Seria a JAC a primeira marca a se diferenciar, oferecendo produtos baratos e com qualidade para brigar de igual para igual com as grandes montadoras mundiais instaladas aqui?
J3 hatch e J3 TurinO desenho do J3 é a primeira surpresa positiva: projetado pelo Centro de Design da JAC na Itália, o carro tem linhas harmoniosas e personalidade própria. O Turin, apesar das lanternas traseiras grandes, não fica comprometido pelo estigma de “adaptação” do qual comumente sofrem os sedãs derivados de modelos compactos, já que o teto tem caimento da coluna traseira mais arredondada, diferente do hatch, dando ao sedã um melhor desenho do porta-malas. Entretanto, em relação ao modelo vendido na China, o J3 “brasileiro” ganhou mudanças visuais, como novas rodas, novo painel, novas cores internas e acabamentos, entre outras modificações.
E segundo a montadora, não são apenas questões estéticas que diferem o modelo original do que é vendido aqui: nada menos que 242 modificações foram feitas no J3 para deixar o modelo ao gosto do consumidor brasileiro. Na parte mecânica, o motor ganhou mais torque e potência, os freios receberam ajuste para uma melhor performance, a direção hidráulica ficou mais precisa, o sistema de combustível foi adaptado à gasolina nacional e os amortecedores, da marca Hitachi Tokico, foram recalibrados, ficando mais firmes.
Outras alterações ficaram por contra de alteração nas vedações, novas palhetas do limpador de pára-brisa, alteração na densidade das espumas dos bancos e o isolamento acústico da cabine, que recebeu 20 kg adicionais de material fonoabsorvente. Ou seja, o carro foi totalmente modificado tendo como foco o conforto e o prazer ao dirigir. A versão especial “Brasil” lançada em novembro inclui ainda bancos de couro e película protetora nos vidros, sem alteração nos preços.
O espaço interno é amplo para um carro de 3,96 m de comprimento (4,15 m no sedã), levando quatro adultos com tranquilidade, além do porta-malas de 350 litros, ótimo para um hatch – o sedã leva 490 litros, um dos maiores porta-malas do mercado. O acabamento é bem feito, e ganha ponto extra levando-se em conta que as outras montadoras chinesas não deixaram boa impressão com seus modelos nesse aspecto. A posição de dirigir é adequada, assim como a visibilidade nos dois modelos.
Acelerando pelas ruas, o motor a gasolina (o flex virá em 2012) de exatos 1.339 cm³ de capacidade impressiona pelo fôlego. Com 108 cv e 14,1 kgfm de torque declarados pela fábrica, o bloco confeccionado em alumínio é desenvolvido em parceria com a austríaca AVL e possui 16 válvulas com duplo comando e VVT (comando variável de válvulas). Segundo a JAC, o modelo tem aceleração de 0 a 100 km/h em 11,7 segundos (11,9 segundos para o J3 Turin) e velocidade máxima de 186 km/h.
Nas ruas, o motor se comporta como um legítimo 1.6 e não sofre em deslocar os quase 1.100 kg do sedã e do hatch pelas ruas, somente dando um pouco de trabalho em subidas mais íngremes, mas nada que uma redução de marcha não resolva. Entretanto, é justamente aí que aparece o “porém” de ambos os modelos: o câmbio mecânico de 5 velocidades tem uma grelha de engates bastante justa e deixa a passagens de marcha bem duras. Fica quase impossível errar uma mudança, mas em uma jornada mais longa no trânsito, é um fator de incômodo.
A suspensão, por sua vez, atua bem equilibrando conforto e establidade, dispondo de sistema McPherson e suspensão independente tipo dual link na traseira. O freio dianteiro é a disco ventilado de 241 mm de diâmetro, propositalmente superdimensionado, e as rodas traseiras dispõem de freio a tambor auto-ajustável. De série, o veículo conta ABS de 8ª geração da Bosch e EBD (divisor eletrônico de frenagem).
Outros itens do amplo leque de equipamentos de série que a fábrica destaca são ar condicionado, direção hidráulica, duplo airbag frontal, acionamento elétrico de vidros, trava e retrovisores, faróis com regulagem elétrica de altura do facho e sensor de estacionamento traseiro. O interior do modelo ainda conta com volante com regulagem de altura, travamento automático das portas a 15 km/h, banco traseiro bipartido 60/40, CD player com 6 alto-falantes e entrada USB. O único opcional do modelo é a cor metálica, oferecida a R$ 990.
Com tantos pontos a favor, resta saber se todos eles se sustentam ao longo da vida útil – e o quanto essa vida útil será longa. A montadora afirma que o modelo passou por mais de 2 milhões de km em testes para adaptá-lo ao mercado brasileiro, e a avaliação do Cesvi aponta o J3 como o segundo hatch compacto mais fácil e barato de se consertar após uma colisão, enquanto o Turin alcançou a primeira posição entre os sedãs de seu porte, no mesmo índice. Mais um indício a favor do modelo é o uso de equipamentos vindos de sistemistas bastante conhecidas do mercado, como Delphi, Continental, Johnson Control, Visteon e Bosch.
Tudo isso somado aos 6 anos de garantia que a montadora oferece, em um carro de R$ 37.900,00 (R$ 39.900 para o Turin), causa até estranhamento do consumidor. Mas se por um lado ele vem atraindo o consumidor por argumentos aparentemente sólidos, ainda há um longo caminho pela frente até que a marca se estabeleça como confiável perante o mercado, ou seja, como se comportarão esses veículos na rodagem. E só o tempo dirá se conseguirão vencer esse desafio em um mercado tradicional e conservador como o brasileiro.
Dados Técnicos
Dados Técnicos
Modelo | J3 | J3 Turin |
Versão | 1.4 VVT | 1.4 VVT |
Dimensões totais |
Comp. x Larg. x Alt. (mm) | 3965×1650×1465 | 4155×1650×1465 |
Entre eixos (mm) | 2400 | 2400 |
Peso em ordem de marcha (kg) | 1060 | 1100 |
Capacidade do porta-malas (l) | 350 | 490 |
Capacidade do tanque de combustível (l) | 48 | 48 |
Tipo de motor | 4 cilindros em linha | 4 cilindros em linha |
Deslocamento volumétrico (cm3) | 1332 | 1332 |
Diâmetro (mm) | 75 | 75 |
Curso (mm) | 75,4 | 75,4 |
Comando de válvulas | DOHC 16V VVT | DOHC 16V VVT |
Relação de compressão | 10,5:1 | 10,5:1 |
Potência Máxima (cv/rpm) | 108/6000 | 108/6000 |
Torque Máximo (Nm/rpm) | 138/4500 | 138/4500 |
Transmissão | Manual de 5 Velocidades | Manual de 5 velocidades |
Suspensão dianteira | Independente, tipo McPherson com molas helicoidais e barra estabilizadora | Independente, tipo McPherson com molas helicoidais e barra estabilizadora |
Suspensão traseira | Independente, tipo Dual Link com molas helicoidais | Independente, tipo Dual Link com molas helicoidais |
Freios | Dianteiro a disco ventilado e traseiro a tambor com sapatas auto-ajustáveis, com ABS e EBD | Dianteiro a disco ventilado e traseiro a tambor com sapatas auto-ajustáveis, com ABS e EBD |
Pneus | 185/60 R15 | 185/60 R15 |
Rodas | Em liga de alumínio 15" | Em liga de alumínio 15" |
Velocidade máxima | 186 km/h | 186 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 11,7 segundos | 11,9 segundos |
J6 e J6 DiamondVinda das mesmas pranchetas que deram origem ao J3, a van J6 briga em um segmento superior com um pacote de equipamentos e preço igualmente competitivo. Assim como o hatch, é igualmente sem opcionais além dos que são vendidos como acessório nas concessionárias. O J6 também possui seis anos de garantia e é vendido em duas versões: com cinco lugares, que custa R$ 58.800, ou a Diamond, com sete lugares e disponível apenas no Brasil, por R$ 59.800. A montadora espera vender até 1.500 unidades por mês.
O modelo chega para o consumidor brasileiro equipada de série com ar-condicionado com regulagem eletrônica de temperatura, freios com ABS e EBD, airbag duplo, pneus 205/55 aro 16”, faróis de neblina dianteiros e traseiros e sensor de estacionamento. No interior, o volante vem revestido de couro e traz comandos para o MP3 e CD player, retrovisores e vidros elétricos. O único opcional classificado pela montadora é a pintura metálica, que sai por R$ 1.190. Nas concessionárias, o comprador pode ainda optar por pneus 215/45 aro 17” por R$ 1.600, bancos de couro por R$ 1.400 para o J6 e R$ 1.800 para o J6 Diamond.
Assim como o modelo compacto, a montadora divulga que a van passou por duros testes de rodagem antes de chegar ao mercado brasileiro, totalizando 1 milhão de km percorridos nessa fase. Entre os sistemas modificados está o conjunto de suspensão, que ficou mais rígido. O sistema é independente com barra estabilizadora e subframe, com o tradicional sistema McPherson na frente, e Dual Link na traseira. Os freios responsáveis por brecarem os 1.500 kg da van contam com discos ventilados no eixo da frente e sólidos na parte traseira, além do auxílio dos sistemas ABS e EBD.
No conjunto mecânico, a transmissão teve as relações de marcha encurtadas e o motor também difere do modelo asiático, que é vendido com um bloco 1.8. As versões brasileiras vêm equipadas com motor 2.0 16V com duplo comando de válvula do cabeçote, que gera uma potência de 136 cv a 5.500 rpm e torque máximo de 19,1 kgfm a 4.000 rpm. De acordo com a JAC, com esses números, o J6 acelera de 0 a 100 km/h em 13,1 segundos e atinge velocidade máxima de 183 km/h.
Outro ponto reforçado no modelo brasileiro foi a redução no índice de NVH (noise, vibration and harshness, ou ruído, vibração e aspereza), com a adição de material fonoabsorvente nas colunas A, B e C, melhoria da vedação dos vidros e do sistema de escapamento.
O interior não sofreu alterações. O painel possui quadro de instrumentos em 3D, iluminação indireta azulada, e sistema de áudio, comandos de ventilação e ar-condicionado integrados ao console central. Os bandos da frente possuem regulagem de altura e os bancos traseiros possuem regulagens individuais, sendo que no J6 Diamond, o acesso para a terceira fileira é feita pelas portas laterais traseiras e os ocupantes também podem reclinar o encosto. O espaço interno se destaca, fruto dos 4,55 metros de comprimento e largura de 1,78 metro do veículo. Como todos os bancos traseiros são rebatíveis e removíveis, a van pode ter espaço para até 2.200 litros de bagagem. Com a segunda fileira de bancos, o porta-malas ainda fica em bons 720 litros.
Em geral, a minivan tem boa dirigibilidade e desenvolve muito bem na estrada, alcançando uma boa velocidade com bastante estabilidade. O câmbio acompanhou bem a força do motor, com engates precisos e uma relação longa. Num tempo bem chuvoso com o carro em alta velocidade, se mostrou bastante estável. Em relação ao conteúdo interior, o J6 tem espaço para a família, mas se abrir os sete bancos, a bagagem fica em casa. Os comandos são simples, mas eficazes. Pelo preço, é um bom carro, só falta saber como vai ser a manutenção e a reposição de peças quando o tempo passar.
Dados Técnicos
Dados Técnicos
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