sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A polêmica da conversão de combustível



Quem não pode comprar um carro 0 Km com motor flex, conta com uma opção mais barata: a conversão do sistema de injeção, um procedimento que está causando divergências de opiniões no setor.
Carolina Vilanova

A conversão de motores, originalmente movidos a gasolina, para bicombustíveis, está dando o que falar entre os profissionais da indústria automotiva. Com a invasão dos veículos flexfuel, que agregam a economia do álcool e a redução do índice de emissões de poluentes, empresas especializadas em eletrônica de veículos buscaram uma solução para oferecer a transformação no mercado de reposição: um sistema de conversão para carros usados.
Hoje é possível encontrar diversas oficinas que dispõem desse serviço. Pelo valor de aproximadamente R$ 500,00, um software é instalado no compartimento do motor e, com o auxílio de um interruptor, o proprietário pode escolher que combustível vai utilizar.
Essa tecnologia é aplicada por meio de um aparelho amplificador de sinal, que possibilita a utilização de álcool em carros projetados para rodar com gasolina, que incorporam o sistema de injeção eletrônica.
"Nosso equipamento tem a função de amplificar o sinal original que é emitido pela unidade de comando de veículos a gasolina, ajustando-o às condições ideais para o funcionamento com álcool. Quando o carro está com gasolina, o sinal continua sendo emitido na proporção original", explica Marcelo Henrique Algarve, do departamento de Marketing da JF Automotive, que produz o JFlex.

De acordo com os fabricantes, a instalação do software é feita por meio de conectores, sem a necessidade de cortar fios ou efetuar qualquer alteração mecânica, e ainda possibilita que seja removido do automóvel. "Devido a grande quantidade de álcool existente na gasolina utilizada no Brasil, que varia de 20 a 25%, a estrutura dos carros a álcool e a gasolina são basicamente as mesmas, o que facilita a conversão", completa Algarve.

Outro destaque entre os fabricantes do aparelho é em relação às características do álcool. "Esse combustível traz uma série de benefícios para o motor do veículo, como o aumento da vida útil e a limpeza das peças que acumulam impurezas da gasolina, além de apresentar um ganho de potência ou torque de 3% a 4%", comenta Algarve.


A instalação do módulo é realizada na própria oficina sem a necessidade de utilizar equipamentos especiais. A empresa, no entanto, possui departamento de orientação técnica, caso o instalador precise de apoio. "O tempo de instalação de um sistema de conversão dura entre uma e duas horas. Em termos de ferramentas, o mecânico precisa apenas de uma furadeira simples e uma chave de fenda. Os cuidados para não danificar outros componentes é o mesmo para qualquer produto, isto é, exige atenção e cautela", conta Vitor Hugo Ramos, da Superchips.

Os produtos têm garantia de fábrica que varia de marca para marca, de 90 dias a um ano, e suas características permitem a homologação e legalização da documentação do veículo convertido junto aos órgãos competentes.
Mauro Alkimin, proprietário da DJMA, outro equipamento de conversão, afirma que não precisa mudar nada no veículo. "O DJMA Flex não é um chip, mas um módulo eletrônico gerenciado por um micro controlador, que aproveita os sinais emitidos da unidade de comando do carro para controlar a quantidade de álcool ideal para o motor", explica.

As oficinas instaladoras do DJMA Flex passam por treinamentos e recebem suporte técnico em caso de dúvidas no momento da instalação, apesar do produto contar com manual de instalação e o certificado de garantia de um ano.
Há controvérsias
O procedimento da conversão de sistema de injeção eletrônica, no entanto, não convence empresas como Bosch, Delphi e Magneti Marelli, responsáveis por desenvolver os sistemas bicombustíveis, e até tricombustíveis, instalados originalmente pelas montadoras nos veículos flexfuel.

A Bosch afirmou que não reconhece que esses sistemas atendam a todos os requisitos técnicos para que o veículo funcione adequadamente. "As alterações não são feitas sobre todos os componentes necessários e não há testes suficientes para que se garanta que o motor não seja danificado, os veículos para usarem álcool devem sair de fábrica desta maneira", analisa Fabio Ferreira, gerente de Desenvolvimento de Produto da Bosch.

De acordo com as marcas, danos em componentes como vela de ignição, bomba de combustível, injetores, escapamento, corpo de borboleta e mesmo partes do motor são inevitáveis. Além disso, o veículo emitirá mais gases na atmosfera e consumirá mais combustível. O motor tem a tendência também de falhar quando estiver frio.

Outro alerta está na documentação do veículo, que deve ser homologada para a utilização de álcool, junto ao Detran. Os fabricantes do conversor afirmam que essa informação é passada para o cliente antes de efetuar o trabalho.

A opinião da Magneti Marelli também vai contra a conversão de veículos originalmente projetados para utilizar gasolina. "Do ponto de vista legal, o veículo não poderia ser abastecido com álcool e do ponto de vista técnico, vários problemas podem ocorrer inclusive dano permanente da sede de válvulas", explica Fernando Damasceno, gerente de Desenvolvimento de Novos Produtos da Magneti Marelli.


"Apesar de ser reversível, os danos causados pela instalação do sistema deixa seqüelas, com destaque para a corrosão, perda de potência devido a vazamento das válvulas de admissão, queima da bomba de combustível, entre outras", completa Damasceno.

Para a Delphi, essa alteração modifica somente alguns dos parâmetros que fazem parte do sistema completo de gerenciamento do motor, o que pode vir a comprometer a condução e performance do veículo. "Outro fator é a configuração do motor base, que pode não estar adaptada com a taxa de compressão adequada para acomodar o uso do álcool, e também a falta de proteção específica em componentes de extrema importância do sistema, como o caso das bombas de combustível, que nem sempre fazem parte do kit de conversão", comenta Edson Brasil, diretor da Delphi Soluções em Produtos e Serviços na América do Sul.

"Antes de realizar a conversão, o consumidor deve entender os custos envolvidos para se fazer a correta conversão, com a provável inclusão de mais ítens do que  somente um circuito elétrico auxiliar, e entender que as peças que deveriam ser trocadas, e eventualmente não são; terão sua vida útil comprometida", completa Brasil.
A opinião das associações
Entre as associações, o dilema da conversão continua. A AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva) e o Sindirepa-SP (Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios do Estado de São Paulo) compartilham a opinião de que a conversão de veículos originais para multicombustível, além de ser ilegal, prejudica os consumidores e o meio ambiente.

Geraldo Rangel, diretor Administrativo e Financeiro da AEA, explica que o motor e a injeção eletrônica são desenvolvidos em conjunto, com auxílio de "mapa", que indica como a injeção deve atuar em função das diversas variáveis do motor. "Esse "mapa" eletrônico identifica para qual combustível o motor foi desenvolvido ou, nos casos flexíveis, quais combustíveis e misturas que o sistema pode gerenciar e garantir um desempenho adequado", comenta.

"Com a substituição do chip eletrônico, o novo "mapa" não é compatível com o restante do motor, o desempenho do veículo pode sofrer alterações e consumir mais combustível, além de carbonizar intensamente e até mesmo "bater-pino" - denominação popular para o fenômeno tecnicamente denominado pré-combustão ou detonação", finaliza.

Sobre o assunto, o Sindirepa-SP declara que apoia as determinações originais das fábricas, que por sua vez, atende a legislação vigente. "A conversão do carro a gasolina para flex, mediante a simples troca de um chip na central eletrônica de injeção e por valores inferiores a R$500,00, além de provocar danos em componentes do motor e oxidação (devido a água presente no álcool hidratado) aumenta o consumo de combustível e a poluição", diz Antônio Gaspar de Oliveira, diretor Técnico do Sindirepa-SP.

Mais um ponto para enfocar é a perda da garantia, pois há alterações nas características originais do veículo. "Em caso de colisão, o seguro pode não pagar os danos se o carro estiver rodando com álcool e no documento constar o combustível gasolina", completa Gaspar.

Em relação às oficinas que realizam o serviço, o Sindirepa diz que é de responsabilidade de cada estabelecimento. "É um desrespeito às questões ambientais e aos consumidores", finaliza Gaspar.
A ASE (Associação Nacional de Excelência em Serviços Automotivos) não condena a transformação. "O mecânico deve advertir seu cliente sobre prováveis danos e a regulamentação dos documentos, além de conhecer bem a procedência do produto, tomar conhecimento da tecnologia aplicada e procurar material de apoio em associações como o Senai", afirma Geraldo Santo Mauro, presidente da Associação.

Questionados sobre a conversão, o Senai-SP declarou que não possui um estudo conclusivo de viabilidade técnica e econômica sobre as instalações de conversores bicombustíveis, pois sua atuação está focada nas parcerias com montadoras e fabricantes do setor automotivo.

"Os componentes aplicados nos veículos, tais como bomba de combustível, bicos injetores e catalisadores,  originalmente são desenvolvidos com base na utilização de um determinado tipo de combustível (gasolina + álcool anidro) e a utilização do álcool hidratado (presente no álcool) pode alterar a vida útil de alguns componentes", explica Antônio Torres, coordenador do Organismo de Inspeção do Senai-SP.

A entidade alerta ainda que todo veículo com alteração de característica deve ser regularizado, e de acordo com a resolução n.º 25/02 do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN), as alterações devem ser realizadas mediante autorização prévia do Orgão de Trânsito (DETRAN, CIRETRAN). "O automóvel deve passar por uma inspeção veicular para obtenção do Certificado de Segurança Veicular (CSV). Mais informações sobre o certificado podem ser obtidas por meio do Organismo de Inspeção Acreditado pelo INMETRO do SENAI-SP, telefone (11) 6166-1988", finaliza.

José Fernando Penteado, diretor do Comitê de Veículos de Passeio do Congresso SAE BRASIL 2005 afirma que como qualquer adaptação o desempenho e durabilidade são inferiores ao original. "Em vista dos danos que podem causar nos componentes do veículo, não recomendamos a conversão, além disso, pode ocorrer contaminação do óleo lubrificante e afetar a lubrificação dos mancais, diminuindo a vida útil do motor e aumentando os gastos de manutenção", completa.

Fonte: http://www.omecanico.com.br

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Detalhes do Motor TU3JP que equipam o Peugeot 206 e Citroën C3



Poucas alterações separam o motor gasolina TU3JP, que equipa os modelos Peugeot 206 e Citroën C3, da versão bicombustível atual. Acompanhe as dicas de manutenção e desmontagem do conjunto.
Carolina Vilanova

O motor TU3JP, de 1.4 litro e 8 válvulas, movido a gasolina, responsável por impulsionar os veículos Peugeot 206 e Citroën C3, foi desenvolvido pela Peugeot no ano de 1992 e já contava com componentes construídos com materiais apropriados para receber o álcool. Esse modelo tem quatro cilindros e oito válvulas e atinge a potência máxima de 74cv a 5500 rpm. A taxa de compressão é de 10,5:1 e o diâmetro e curso do pistão é de 75 x 77.

Com capacidade de gerar a potência de 74 cv, o propulsor passou por algumas evoluções ao longo dos anos, sem deixar para trás as características originais que o fazem compacto e eficiente. Primeiramente, o ganho de 8 cavalos de potência pois o programa do calculador fui mudado, assim como o formato do coletor de admissão.
"Não muda nada para os modelos bicombustíveis pois a Peugeot já projetou esses motores para rodarem também com álcool, devido à quantidade de álcool presente na gasolina brasileira. Então o motor passou por pequenas modificações, já que a única alteração visual é a instalação do sistema de partida a frio e outros ajustes efetuados no software do sistema de injeção eletrônica", explica Alberto Meyer, coordenador de treinamento peças e serviços da Peugeot.

Existem algumas particularidades nesse motor, como a troca de correias que exigem ferramentas adequadas e deve ser feita com o motor bloqueado no virabrequim no momento da retirada da polia, ao invés de utilizar o PMS (Ponto Morto Superior) para encontrar o sincronismo de distribuição. Além disso, a conexão entre velas e bobinas é feita sem cabos, por meio do bloco bobina compacto, uma peça acoplada na parte superior das velas, que reduz a chance de mal contato. Muitas partes foram projetadas em plástico para deixar o motor mais leve, em conseqüência, mais potente. O acelerador é do tipo eletrônico, sem cabo.
Em termos de manutenção, a Peugeot recomenda que as revisões e as trocas de componentes sejam realizadas no prazo determinado no manual do proprietário. Filtros e periféricos, por exemplo, devem ser substituídos a cada 20 mil km, velas a cada 40 mil km e correia dentada a cada 60 mil km.
Quanto ao óleo lubrificante de motor, é recomendável que seja trocado por meio de sucção através da vareta de medição, desenhada para alcançar o fundo do cárter, pois não é possível esvaziar todo o cárter através do bujão. "Gasolina e lubrificante de má qualidade entopem a descida do óleo e quando coloca lubrificante novo, o velho não sai", diz.

Entre as ferramentas requisitadas para realizar o serviço estão a trava de volante para soltar a polia dianteira, a trava do virabrequim para montar a correia e trava do comando para achar o sincronismo. "É muito importante ter em mãos o número de série do motor, identificado na plaqueta no bloco do motor, na hora de comprar peças de reposição", complementa Meyer. Eventuais reparos no motor são necessários quando apresenta consumo excessivo de combustível e lubrificante, excesso de fumaça, carbonização da vela e vibração das bielas.

Procedimento
O processo para abrir o motor TU3JP inicia com a retirada dos periféricos, como motor de partida, alternador, filtros, tubulações e coletores de admissão e de escape. Já a montagem é feita na ordem inversa, seguindo as determinações e torques da montadora.
1) Depois dos periféricos, desencaixe também o conjunto de bobinas, que é construído diretamente no suporte da vela e elimina a utilização de cabos. Esse motor não possui sensor de fase mas um sistema chamado Dephia, que determina a fase de injeção por faísca e as bobinas emitem os sinais para a central eletrônica para localizar a posição do cilindro para trabalhar seqüencialmente.


2) Em seguida, solte a galeria dos bicos injetores. Na hora da montagem troque os anéis o'ring por novos e não esqueça de passar vaselina antes de encaixá-los, o que evita ressecamento e rachaduras.



3) Retire a tampa de válvulas. Cuidado com os espaçadores e com o defletor de óleo, para não escorrer lubrificante no coletor. Ao montar, troque o conjunto de junta e borracha que funciona como vedação.


4) Para ter acesso à correia dentada, remova a capa de proteção e depois solte o esticador e retire a correia. Obs.: Na montagem utilize as ferramentas apropriadas para sincronizar o conjunto com precisão. Nesse modelo, o cilindro não está em PMS no momento de sincronismo do motor. Para encontrar o sincronismo, trave o volante e coloque as polias e a correia antes de dar a tensão. (Foto 4A). Para tensionar, trave a polia e posicione a seta do tensionador na marca determinada. Retire a ferramenta e gire quatro vezes o motor, em seguida, recoloque a trava. A ranhura da carcaça e o suporte do esticador devem estar perfeitamente encaixados, se não coincidir, repita o processo. (Foto 4B). Atenção: gire o virabrequim com cuidado e lentamente, sem forçar, pois o pistão pode bater na válvula e volte o virabrequim, mudando a posição do comando. (Foto 4C).
4A 4B 4C
5) Remova os parafusos do cabeçote na seqüência de dentro para fora e de forma cruzada. Vale lembrar que os parafusos são elásticos e quando colocá-los de volta, meça-os e certifique-se que obedecem a seguinte especificação: comprimento nominal do parafuso = 175,5 + 0,5 mm e comprimento máximo do parafuso = 176,5 mm. Os parafusos podem ser utilizados apenas duas vezes. A seqüência de aperto é a inversa e o torque de aperto é de 2.0 Nm e 240 º.


6) Retirar o eixo de balancins, que são do tipo roletados, e em seguida retirar o conjunto do cabeçote. Não esqueça de trocar a junta quando montar a peça. Se o serviço exige que seja retirado apenas o cabeçote, utilize o dispositivo para travar a camisa para ter mais segurança na operação.


Cárter
1) Solte os parafusos do cárter e remova a tampa. Para retirar a bomba de óleo, empurre-a para o lado, possibilitando a retirada da corrente primeiro.


2) A remoção dos pistões é feita em conjunto com as bielas pela parte de baixo do motor, pois a largura do "ombro" da biela não permite a passagem na camisa por cima. Retire o parafuso da biela. Os pistões não permitem retífica e devem ser substituídos se apresentarem avarias. (Foto 2A).
Observações para encaixar os pistões: utilize uma cinta de anéis e monte o pistão na camisa, antes de instalar os conjuntos no motor, com cuidado para não danificar e nem perder os anéis o'ring, o que pode provocar vazamentos no pé da camisa. (Foto 2B).
2A 2B
2C 2D
As bielas são encaixadas coincidindo as marcas da bronzina ou posicione trava com trava. Mais uma vez, atenção com o o'ring. (Foto 2C). Então, coloque o conjunto camisa, pistão e biela no motor, sendo que as setas indicadas na cabeça do pistão, que devem estar apontadas para o lado da correia dentada (Foto 2D). Na montagem do cárter, limpe bem as flanges da tampa e da carcaça antes de aplicar a nova cola.
Classificação de bronzinas:
Por meio da marcação no bloco do motor, posicione as bronzinas da seguinte maneira:
- Lado do bloco do motor: utilize as bronzinas com referências na cor preta.
- Lado capa de apoio: código de barras voltado para o virabrequim.
* Utilizar o Plastigage quando não tem a marcação no bloco do motor
3) Para ter acesso ao virabrequim, solte os parafusos que o prendem e retire o semi-cárter. Antes de montá-lo, certifique-se de que a corrente da bomba está encaixada. O torque de aperto é de 2 m.daN + 47o.


4) Ajuste a folga axial, que é de 0,07 mm a 0,23 mm, com a meia lua e o relógio comparador.


5) Para soltar ou apertar o volante ou a polia dianteira é necessário travar o virabrequim com a ferramenta específica da montadora 7.0132 - P.



Regulagem de válvulas
Para regular as válvulas use lâminas de calço e ajuste o parafuso com o seguinte valor: frio = 0,20mm + 0,05mm
Folga de escape = 0,40mm + 0,05mm
Colaboração Técnica:
SENAI-SP (Unidade Ipiranga)


Atenção com cabos de ignição



Acompanhe nessa reportagem os tipos e as características dos cabos de ignição, componentes que têm durabilidade limitada e que exigem procedimentos e cuidados importantes na hora da substituição
Carolina Vilanova

Não basta apenas trocar as velas, para o bom funcionamento do sistema de ignição de um veículo na hora da manutenção, checar as condições dos cabos das ignição e fazer a correta substituição quando necessário é imprescindível para que o conjunto continue seu bom desempenho. Nessa matéria, realizada com o apoio da NGK do Brasil, mostramos quais as características e os tipos de cabos de ignição utilizados nos veículos atuais, enfatizando que cada um tem sua aplicação específica.
A função do cabo de ignição é levar a corrente do transformador ou bobina até a vela de ignição, sem permitir fugas de corrente e assegurando uma ignição sem falhas. Para isso, o cabo precisa ter algumas características, que são:
• maior resistência a altas temperaturas, pois o ofre do motor atinge temperaturas acima de 150º C;
• maior supressão de ruídos porque hoje todos os veículos possuem equipamentos eletrônicos e o cabo ajuda a filtrar a interferência por rádio frequência;
• maior rigidez de elétrica, ou seja, a tensão utilizada no sistema de ignição está cada vez mais alta e o cabo tem que resistir a essa tensão sem que ocorra a fuga de alta tensão;
• a resistência a ataques químicos, como vazamento de óleo e de combustível.
De acordo com as informações de Hiromori Mori, da área de Assistência Técnica da NGK, a empresa tem dois tipos de cabos de ignição: O SC (Supressor no Fio, Cabo Resistivo) e o ST (Supressor no Terminal, Terminal Resistivo). "O que muda é a forma de confecção de cada um, o SC é um cabo supressivo de fio de níquel-cromo e o ST tem terminais resistivos. É importante frisar que o tipo do cabo é determinado pela montadora para um veículo específico e não pode ser trocado por outro", afirma.
Cabo de ignição resistivo - Tipo SC Cabo terminal resistivo - Tipo ST
No primeiro tipo, o cabo supressivo de fio níquel-cromo contém revestimento de EPDM (Material de borracha) na parte branca da borracha, o que proporciona maior rigidez de elétrica e aguenta mais de 60 mil V. A parte externa do cabo dá proteção a ataques químicos e suporte a altas temperaturas. O fio de níquel-cromo faz a condução da energia elétrica. "Outra característica desse tipo de cabo é a resistência, que está no próprio fio, então, quanto maior o comprimento do fio, maior a resistência e quanto menor, menor a resistência", explica.
Outro tipo de cabo disponibilizado é o ST, cuja resistência está no terminal lado vela transformador e do lado da vela, logo, tanto faz o comprimento do fio, a resistência é sempre a mesma. "Temos uma resistência de níquel-cromo no terminal e o fio é um mero condutor de corrente elétrica, com maior rigidez de elétrica", analisa Hiromori.
Teste de resistência Ôhmica
O mecânico deve efetuar os testes de resistência ôhmica toda vez que suspeitar que os cabos apresentam problemas de funcionamento. Para isso, é preciso que o técnico tenha um multímetro ou um ohmímetro devidamente aferido e em bom estado de conservação. Meça o valor de resistência ôhmica entre os terminais do cabo na escala de 20 k?. Confira os valores respectivos de cada tipo de cabo:
Cabos SC: resistência no próprio cabo, então cada cabo tem um valor de resistência diferente. A resistência é de 7,5 k? por metro, com uma tolerância de 40%. Coloque o multímetro na escala de 20 k? e coloque as pontas do multímetro nas duas extremidades do cabo. Faça a medição. O cabo mais curto tem valor menor do que os maiores.

Cabos ST: a resistência está nos terminais, então, independentemente do tamanho do cabo, a resistência vai ser a mesma. Para os cabos de ignição de 4,0 a 8,0 k? e para os cabos da bobina, de 1,0 a 3,0 k ohms.

Manuseio e instalação dos cabos
Para instalar um cabo de ignição, observe o perfeito alinhamento do cabo com a vela. Na hora de retirar o cabo, devemos girar o cabo pelo terminal para descolar da vela antes de puxá-lo, sem danificar o cabo. O cabo deve ser sempre manuseado pelo terminal.

Hiromori explica tendo como exemplo um cabo em corte, que quando se coloca e retira um cabo desalinhado o processo é dificultado e a ponta da vela, que é de metal, vai danificar a parte interna do cabo, que é de borracha. "Se desalinhar, o pino terminal do cabo pode travar na vela de ignição e não será possível fazer o desencaixe", complementa.



Erros de manuseio:
1) Uso de ferramenta inadequada como o alicate, que corta a capa de borracha provocando fuga de alta tensão.

2) Deixar o fio do cabo solto, podendo entrar em interferência com outras peças do motor e ser danificado por atrito ou alta temperatura.

3) Puxar o cabo pelo fio, danificando o terminal, que desprende o conector metálico.

4) Instalar cabos com conectores oxidados, por isso, observe sempre o estado dos conectores do cabo e substitua em caso de necessidade.



Teste do cabo no veículo

Quando o teste é feito no próprio veículo, aterre um fio terra no motor e passe o fio em todo o comprimento do cabo de ignição. Com o motor ligado, quando o cabo tem fuga de corrente, o veículo começa a falhar.
A indução da corrente elétrica passando pelos fios gera campo eletro-magnético que vai carregando os cabos. "Podemos observar que do cabo de ignição está pulando algumas centelhas para o fio terra, mas o veículo não falha, isso é corrente parasita", diz.

O mecânico deve ficar atento para não confundir o efeito corrente parasita com fuga de corrente, que ocorre em um único ponto, enquanto a corrente parasita ocorre ao longo do cabo de ignição. Quando o efeito é de fuga de corrente, há falha do motor quando o fio terra passa próximo ao ponto de fuga.

"A corrente parasita é causada pelo próprio funcionamento do motor, então se abrir o capô do motor durante a noite é comum enxergar raios correndo pelos cabos de ignição, mas não significa que o carro está com problemas", completa Hiromori.

Manutenção e inspeção
A recomendação de manutenção preventiva dos cabos é que sejam substituídos a cada três anos. Mas se o veículo roda muito é indicado que troque a cada 70 mil km. Em casos de veículo com GNV, a vida útil do cabo é reduzida pela metade.
É bom lembrar, para efeito de inspeção veicular, que falhas de ignição podem fazer com que os índices de hidrocarbonetos (HC) fiquem elevados na hora da medição, por isso, a dica é substituir os cabos de ignição.
Flash Over
O efeito flash over acontece quando há fuga de corrente entre o terminal do cubo e a vela de ignição, formando um arco voltaico. Nessa situação, tanto a vela quanto o cabo ficam marcados por onde percorreu a alta tensão. Assim, o técnico deve substituir as velas e os cabos. Observe que podem ocorrer entre a torre do transformador e do cabo de ignição, exigindo a troca desses componentes.
Nos cabos de ignição, aparecem riscos esbranquiçados no lado interno do terminal de borracha.
Causas do flash over
* velas de ignição com desgaste acentuado nos eletrodos

* mistura pobre, principalmente, no GNV

* ponto de ignição atrasado

* folga excessiva entre os eletrodos da vela

* presença de resíduo, umidade ou folga entre a capa protetora de borracha do cabo de ignição e a superfície do isolador cerâmico da vela e/ou torre da bobina/transformador

* taxa de compressão elevada



Falhas
Manuseio
Aspecto do cabo: corte na capa de borracha e/ou aspecto na blindagem
Problema: cabo pode apresentar fuga de corrente e consequentemente falhas no desempenho do motor
Causa: uso de ferramentas inadequadas para o manuseio dos cabos (alicates, chaves de fenda, etc)
Solução: substituir os cabos

OxidaçãoAspecto do cabo: formação de oxidação (Zinabre) nos conectores do cabo
Problema: aumento da resistência ou isolação na passagem de corrente elétrica e consequentemente falhas no desempenho do motor
Causa: má conexão entre os terminais ou presença de umidade ou ataque químico nos terminais
Solução: substituir os cabos e revisar os componentes afetados

Atrito
Aspecto do cabo: cabo apresenta marcas de desgaste por atrito ou derretimento
Problema: cabo pode apresentar fuga de corrente, consequentemente falhas no desempenho do motor
Causa: contato dos cabos com as partes móveis ou quentes do motor, devido a fixação de arranjos inadequados
Solução: substituir os cabos e utilizar fixadores e arranjos adequados





Fonte: http://www.omecanico.com.br