Uma completa reportagem do JOB de março tratou do tema de
limpeza de bicos onde, na oficina, acompanhamos o procedimento de
limpeza de um Fiat Punto e após, o caso foi
solucionado.
Na ocasião, a matéria lançou no site do Jornal, enquete com o polêmico
questionamento: “Você pratica?” com o objetivo de “captar na fonte” a
opinião de quem lida com essa realidade diariamente, o reparador
independente.
A grande maioria das respostas apontou a má qualidade do combustível como responsável por diversas falhas nos
motores. Selecionamos no site a opinião destes profissionais e apresentamos os pontos de vista pró e contra essa prática:
FAZEM LIMPEZA“Devido
à má qualidade dos combustíveis e a não manutenção preventiva (troca de
filtros, óleo e velas)”. Luis Carlos Maroldi - Centro Técnico Automotivo Jaçanã – São Paulo - SPDe
uma família de empreendedores, Luis Carlos Maroldi comprou seu primeiro
carro usado e, como muitos reparadores, interessou-se pela mecânica
mexendo no seu próprio automóvel. “Isso há quase 30 anos atrás. Fiz
cursos de freios e elétrica inicialmente, áreas que me interessavam. Fui
aprendendo na prática e pedia ajuda a outros mecânicos quando não
sabia.
Montei uma loja de peças de motos, mas não me identifiquei e fui trabalhar de empregado em oficinas.
Hoje, tenho a minha oficina. Investi em equipamentos, ferramentas e cursos e me especializei em inspeção veicular”, conta Luis.
Trabalham
na oficina ele e dois filhos, Bruno e Junior. Um deles é Tecnólogo em
Mecatrônica pela Faculdade Getúlio Vargas. O outro está fazendo
Tecnologia da Informação. O filho Bruno, braço direito na oficina, já se
decidiu em continuar na empresa, pois percebeu que o que vai dominar a
oficina é a informatização.
Luis é a favor da limpeza de bicos
injetores. “O principal problema que encontramos nos veículos hoje é
causado por combustível adulterado. Quando fazemos os testes, pegamos
até 80% de alteração no combustível e isso causa grandes danos no motor e
consequentemente, nos bicos. Alguns clientes me procuram querendo fazer
a limpeza quando a luz de anomalia da injeção acende.
Procuro
explicar que a luz de injeção acesa não indica “bico” e sim, que há
algum problema fora do parâmetro de funcionamento do motor que a central
do carro detectou. É preciso diagnosticar a causa, por meio de um
rastreamento no veículo, leitura com scanner, e ver o que está fora do
padrão de fábrica. Pode-se fazer o teste na gasolina e ver se está de
acordo”, explica o reparador. Luis também afirma que preventivamente, só
indica a limpeza se o carro estiver com muita quilometragem. “Temos
diversos casos na oficina em que a limpeza foi a melhor solução,
principalmente na linha Corolla. Em um dos casos, o dono do veículo
alegou falta de rendimento e o veículo parecia ter sintomas de ignição,
mas na verdade era falta de equalização e limpeza de bicos. Tenho um
cliente que mora no bairro Sumaré e trabalha no Jaçanã, percorrendo
assim uma grande distância diariamente. Quando não restava quase nenhuma
alternativa, tirei os bicos e coloquei na máquina.
Resultado:
estava tudo errado. Limpei algumas vezes, equalizei e coloquei no carro.
No dia seguinte à limpeza, o cliente ligou e brincou: você abriu o
motor do meu carro e colocou mais 30 cavalos lá dentro? pois ele nunca
andou tão bem quanto agora! Isso por causa de uma simples limpeza de
bicos”, ressalta.
“Em outro caso, um Palio com 28.000 km, o
cliente afirmou que o carro não pegava e não rendia bem. O veículo era
usado muito pouco e ficava bastante tempo parado causando oxidação e
carbonização. Após a limpeza de bicos, o carro ficou mais econômico com
partida rápida. Hoje trabalhamos muito em cima de diagnóstico, corremos a
parte de alimentação, ignição e motor, válvula e o bico é um dos
últimos itens a ser checado”, finaliza.
“Sou a favor da
limpeza de bicos haja visto que já deparei com uma EcoSport 1.6 Flex com
pouca potência. Verifiquei velas, cabo de velas, bobina e o defeito
persistia, então resolvi tirar os bicos para averiguação. Colocando na
máquina constatei que um deles injetava menos do que os outros.
Coloquei-os no ultrassom para limpeza e em seguida, testei novamente e
verifiquei que, aquele que injetava menos estava igualado com os demais,
provando a eficiência do ultrassom e resolvendo o defeito do carro.
Depois disso quando vem algum cliente na minha oficina com o carro
falhando cilindro e o mesmo me fala que é coisa simples como uma vela
ruim eu digo: Não é tão simples assim pois tem mais de 5 itens que
ocasionam a mesma falha e tenho que verificar um a um.”Oficina Luzetti –
Paulo Sérgio Luzetti – Guarulhos - SPBancário por 18
anos, Paulo Sérgio Luzetti decidiu vender uma casa no litoral e um
comércio de outra natureza, e com o capital montar a sua oficina, após
ser demitido. “Comprei algumas ferramentas na Rua Florêncio de Abreu, no
centro de São Paulo e guardei-as na Saveiro.Parei no banco para pagar
um imposto e quando voltei, havia sido furtado. Levaram as ferramentas e
o carro. Voltei na Florêncio de Abreu e o vendedor falou: Você de novo
aqui?”, brinca o reparador, que não desistiu do seu objetivo. “Fiz
alguns cursos para me especializar e conseguir tocar o negócio. Estou
desde 2003 com a minha oficina. Em alguns casos, aconselho a limpeza de
bicos”, explica Paulo.
Ele conta que certa vez, além do Ford
Ecosport citado, ele também atendeu um Corsa. “O bico estava entupido,
não injetava e falhava cilindro. Era o bico também e esse eu tive que
limpar duas vezes para que ele igualasse com os outros. O certo é fazer a
limpeza de bicos entre 15.000 km e 20.000 km, foi o que aprendi no
curso de injeção eletrônica no SENAI”, finaliza Paulo Sérgio.
NÃO FAZEM LIMPEZA“Para
meu entendimento, quando temos um veículo com consumo de combustível
dentro da média (cliente não reclama de consumo ou falha) e análise de
gases conforme especificação das normas de poluição, não se faz
necessária a limpeza ou descarbonização dos injetores. Podemos fazer
serviços de maior importância para a segurança de nossos clientes ou não
cobrar por serviço desnecessário, fidelizando-o ainda mais na oficina”.
Igor Giacomet – Auto Mecânica Confiança –Caxias do Sul - RSCom
o apoio do pai, Igor Giacomet decidiu fazer um curso automotivo no
SENAI. Aos 16 iniciou como auxiliar em uma concessionária Renault e
ficou por 7 anos, até atingir o cargo de chefe de oficina.Com 25 anos,
foi gerente de pós-venda de uma concessionária Volkswagen, e hoje, com
28 anos, é proprietário da Mecânica Confiança, que atende
aproximadamente 250 veículos por mês e possui 7 colaboradores. Igor
conta que o foco da oficina são as marcas Renault, Peugeot e Citroën,
isso porque eles se especializaram para atender estas marcas que já
conhecem bem, pois para a Confiança, atender todas as montadoras exige
gastos com equipamentos e diferentes especializações.
Na opinião
de Igor, clientes não afirmam que o carro precisa de limpeza de bicos,
apenas afirmam que consome muito e não anda como antes.“Na maioria dos
casos atendidos, o problema do cliente é resolvido com substituição de
peças eletrônicas como sensores e ignição ou mecânicas como velas,
filtros, sincronismo, e bomba de combustível. A limpeza de injetores,
fazemos após o teste de equalização apresentar que algum injetor possui
diferença em relação aos outros ou tabela de calibração”, enfatiza Igor.
Ele
também acredita que vender o serviço de limpeza de bicos é
desnecessário. “Podemos vender serviços úteis para a segurança, como
palhetas ou uma verificação eletrônica de sinalização que serão visíveis
aos olhos do cliente e geram o mesmo lucro com a venda da peça”,
informa Igor.
“Caso alguma partícula sólida passe pelo
filtro, ou mesmo o surgimento de alguma borra por desprendimentos ou
deterioração das mangueiras do sistema de alimentação provocados devido
ao contato de solventes dispersos em combustíveis de má qualidade, ou
ainda a cabornização das válvulas do cabeçote por falta de troca do óleo
ou velas de ignição no tempo correto, podem provocar problemas de
entupimento dos bicos. Caso contrário, abastecendo com combustível de
boa qualidade, trocando o filtro de combustível no tempo correto,
periodicamente fazendo uso de aditivo para gasolina/álcool, não se faz
necessário o processo de limpeza dos bicos injetores, haja vista que o
fluxo constante do combustível pelos orifícios dos bicos por si só os
mantem limpos”. Ubirajara Placido de Oliveira- Pariquera-açu - SPO
primeiro carro de Ubirajara foi um Fusca, motor 1.500 cc., e quase toda
a manutenção mecânica, com o auxílio de artigos e ferramentas
específicas para o tipo de motor, procurava realizar
pessoalmente,
desde a regulagem das válvulas, colocação do motor no ponto de ignição,
regulagem do platinado, limpeza e regulagem da folga dos eletrodos das
velas, etc. O tempo foi se passando, o conhecimento de mecânica
aumentou, e sempre a manutenção de motores veiculares despertou
interesse. Aos 18 anos, ingressou no serviço militar na FAB – Força
Aérea Brasileira, prestando serviços no 1º/11º GAV (Grupo de Aviadores),
no Guarujá/SP, ocasião em que foi trabalhar na sessão de motores,
especializando-se na manutenção de motores a reação, utilizados em
helicópteros, alimentados a querosene de aviação, diferentemente dos
motores automotivos, que são motores a combustão de 2 ou 4 tempos,
alimentados tanto por álcool, gasolina, diesel, gás, ou outro derivado
do petróleo. Foram quase cinco anos de trabalhos nessa área, de 1987 a
1992.
Nessa época, iniciou um curso superior de Engenharia
Industrial Mecânica, pela UNISANTA, concluindo 7 semestres. Trancou a
matrícula, pois havia sido aprovado em concurso público, em área
totalmente oposta à mecânica, no cargo de Oficial de Promotoria, o qual
até hoje exerce, já que é formado em Direito. “Provavelmente não
retorne para a área da mecânica, mas ainda continua sendo uma paixão, e
como forma de sempre estar atualizado no ramo automotivo, tanto quanto
aos novos sistemas de injeção, como aos novos equipamentos que auxiliam o
profissional reparador, a leitura do Jornal Oficina Brasil para mim é
uma ferramenta valiosa nessa empreitada do conhecimento”, conta
emocionado Ubirajara.
Para ele, a polêmica em torno da questão
limpeza de bicos, está nos cuidados quanto à correta manutenção
preventiva que o cliente deve ter com o veículo. “Na maioria das vezes a
limpeza do sistema de injeção se procede tendo em vista que o cliente,
na correria do dia a dia, não mantém controle efetivo da manutenção
veicular, não faz a leitura do manual do veículo, não respeita o
intervalo correto para a troca de óleo, velas, filtros, etc. Não observa
certos cuidados quanto ao combustível, nem mantém fidelização dos
serviços do veículo em uma só oficina, sendo assim, nenhum reparador,
mesmo com os aparelhos de diagnósticos mais sofisticados, possui a
capacidade de enxergar o interior do sistema, optando na dúvida, pela
execução dos serviços de limpeza dos bicos injetores”, enfatiza
Ubirajara, que também acredita que a utilização de combustível de
procedência e de qualidade comprovada, a substituição do filtro
combustível no devido tempo, e regularmente o uso de aditivo no
combustível, por si só, mantém os bicos limpos.
**Fonte: http://www.oficinabrasil.com.br