terça-feira, 13 de agosto de 2013

Toyota Corolla possui qualidades mas reparadores apontam defeitos no modelo


Com sistemas dotados de tecnologias eficientes e simples, não trazem grandes dificuldades na manutenção e já começamos a vê-los nas oficinas independentes a partir dos 20.000km. Acompanhe as opiniões dos reparadores

Com a marca de 37,5 milhões de unidades comercializadas no mundo, o Toyota Corolla é ‘apenas’ o veículo mais vendido da história do mercado automobilístico, com sua produção iniciada em 1966. Em nosso país, convivemos com o modelo desde 1998, o qual vinha importado do Japão e a partir do modelo 1999 já contava com produção nacional.

 NAS OFICINAS

Como será possível observar nos depoimentos dos reparadores, o hábito dos donos do Corolla não diferem muito dos proprietários de veículos mais populares, pois estes (donos de Corolla) também têm o hábito de migrar para a oficina independente uma vez findo o período de garantia. Assim, é comum encontrarmos estes veículos a partir dos 20.000km nestes estabelecimentos.
Excepcionalmente, iniciamos esta matéria acompanhando a revisão de um modelo mais antigo, mais precisamente um Corolla 1.8 16V 2002 (Foto 4) que estava na oficina Mack, localizada no bairro da Saúde, em São Paulo. Este já estava com uma quilometragem relativamente baixa se levarmos em conta seu ano de fabricação, 68.300km rodados. Devido ao cuidado empregado pelo usuário, o reparador Leandro Silva Costa comentou que o veículo estava lá apenas para uma revisão básica, incluindo trocas de velas (Foto 5), filtros, óleo e pastilhas de freio.
“Atendo estes veículos desde o ano 2000. A partir dos 20.000km já começam a chegar a nossas oficinas para
manutenções. Os clientes optam por nós por oferecermos um serviço de ótima qualidade e a um custo justo quando comparado às concessionárias. Geralmente estes só esperam acabar o período de garantia para nos trazer o veículo”, comentou Leandro.
“É comum verificarmos aparecimento de borras de óleo no motor quando a troca é feita no período incorreto e também superaquecimento causado por nível de líquido de arrefecimento (Foto 6) abaixo do especificado. Estas duas razões já me levaram a ter de retificar o cabeçote de alguns veículos”, completou Leandro.
“No mais, não é o tipo do carro que apresenta um defeito crônico, apenas aqueles gerados por desgaste natural dos componentes”, disse Leandro.
Na oficina Auto Check Saúde, os reparadores Carlos Augusto Bacelar e Ricardo Luis Leite, também comentaram sobre o sedã japonês.
“A partir dos 30.000km os veículos começam a aparecer aqui para realizar manutenções. Antes disso frequentam as concessionárias no período de garantia”, comentou Carlos.
Ricardo acrescentou: “É comum recebermos os veículos a partir desta quilometragem mesmo. Nesta realizamos trocas de óleos, filtros e correias. Só a partir dos 2010 que as correias foram eliminadas e os motores agora utilizam corrente decomando”.

“Nos veículos com quilometragem mais alta, a partir dos 60.000km geralmente, costumo efetuar limpeza dos bicos injetores que, nesta fase, começam a apresentar carbonização. Também faço o mesmo com o coletor de admissão que começa a apresentar vedação ineficiente e o blow-by começa a enviar não somente vapores de óleo para a admissão, mas também óleo na forma líquida. Isso então torna a aprovação na inspeção veicular difícil e o desempenho do veículo prejudicado”, disse Ricardo.
“O espaço para trabalhar neste carro é ótimo. Mesmo quem não trabalha com frequência com estes não tem dificuldades em repará-los”, comentou Robson.
“As manutenções mais comuns neste modelo são trocas das buchas da suspensão, dos discos e pastilhas dianteiros, óleos e filtros em geral”, disse Robson ratificando a presença do Corolla nas oficinas independentes.
“Raramente tenho trocado os amortecedores deste carro. Não costumam apresentar defeitos e só são trocados mesmo em veículos muito rodados”, acrescentou Robson.
“Tive uma experiência em reparo de suspensão de um Corolla onde o proprietário relatou que havia levado o carro a diversas oficinas, mas até então ninguém tinha solucionado. A reclamação era referente a ‘estalos’ e, ao verificarmos o conjunto, notei que a bucha da bandeja era nova, porém, havia sido instalada torta, assim esta corria no seu alojamento causando o barulho reclamado. Assim, substituí a bandeja completa e o defeito acabou”, explicou Robson.
Na oficina Toquinho Hidramático de São Paulo encontramos outro exemplar, dessa vez do ano de 2005. O veículo 1.8 16V da versão SE-G (Top de linha do Corolla) estava com 78.360km (Foto 7) e o reparador Alcides de Oliveira Martins Jr., comentou que a transmissão automática deste estava apresentando barulho em curvas.
 “O defeito nesta caixa automática de quatro velocidades (Foto 8) foi causado por desgaste nas engrenagens da caixa de satélites e dos eixos de tração”, explicou Alcides.
 “Tenho notado que este é um defeito recorrente. As engrenagens das satélites e das planetárias (Foto 9) perdem a cementação e acabam apresentando buracos em seus dentes. Isso ocorre geralmente quando o veículo passa por balanceamento do conjunto de uma roda com esta presa ao eixo, não tomando cuidado em apoiar a outra, evitando assim que os eixos fiquem torcidos. Efetuar este tipo de balanceamento com os eixos retos e com ambas as rodas girando evita a sobrecarga na caixa de satélites”, aconselhou Alcides.
“Com a roda levantada em somente em um dos lados e com o eixo girando, a caixa não é atuada pelos rolamentos cônicos em sua totalidade, mas sim pelas planetárias e satélites. Junto a isso, se o fluido estiver com o nível incorreto, pode provocar aquecimento e acelerar os danos ao componente”, completou Alcides.

O QUE O NOVO TRAZ?

Para enriquecer nossa avaliação, enviamos a oficina AM Motors, especializada em Toyota e Honda, situada no bairro da Lapa em São Paulo, um Corolla Gli 2013 (Foto 10), cedido gentilmente pela montadora. Neste, o reparador Alexandre de Lucca comentou as novidades (ou não) que o modelo possui para que o reparador independente não se surpreenda nas oficinas.
“Não houve muitas modificações. Esta é uma característica interessante da Toyota. Não costuma mudar o que já está dando certo, a não ser por algo melhor. Ou então isso só ocorre se a Honda apresenta algo novo, aí logo em seguida a Toyota dá sua resposta”, comentou Alexandre.
“O motor é o mesmo! Não tem novidades (Foto 11). Exceto pela central de injeção que foi transferida para o vão do motor (antes ficava no habitáculo), tornando o acesso a ela mais prático, porém, sujeita o componente às condições de temperatura e umidade da região, assim, apenas com o tempo saberemos se isso poderá se tornar um problema ou não”, disse Alexandre.
“Outra mudança que verifico está no cárter (Foto 12). O desenho está diferente tanto no do motor como no da transmissão, mas a facilidade de manutenção em ambos permanece”, acrescentou Alexandre.
“O trocador de calor deste câmbio aparenta ser mais resistente. O antigo costumava danificar e acabava provocando mistura de água e óleo na transmissão que, se não notado a tempo, causava danos graves a caixa”, comentou Alexandre.
“A suspensão dianteira é a mesma e não recebeu alterações (Foto 13). É um componente elogiável do veículo e as manutenções que faço são apenas a troca de bieletas e buchas das bandejas”, disse Alexandre.
“A barra de torção da traseira é diferente. Houve o acréscimo de outra barra arredondada junto a esta assumindo a função de barra estabilizadora e, esta mais robusta, permite maior estabilidade em curvas”. (Foto 14)
“O freio traseiro não conta mais com sistema a tambor. Agora este já é a disco e pastilha com acionamento do freio de estacionamento à cabo”. (Foto 15)

AR CONDICIONADO

Os Toyota Corolla fabricados entre 2003 e 2007 possuem um ar condicionado que pode ser resumido em poucas palavras: simples, eficiente e de baixa manutenção (Foto 16).
É equipado com um compressor DENSO 10Pa15 de deslocamento FIXO de 10 cilindros, com 150 cm³ de capacidade volumétrica e embreagem eletromagnética. (Foto 17)
Utiliza cerca de 530g +- 30 g  de fluido refrigerante R134a e cerca de 180 ml óleo PAG 46.
Com relação à manutenção, um dos poucos problemas que podem ocorrer eventuais são os vazamentos e ruídos no compressor (geralmente acima dos 80 mil km, dependendo do uso).
O fio do compressor pode se romper próximo a bobina.
O lip seal do eixo do compressor pode apresentar vazamentos. (Foto 18)
Se o rolamento da polia do compressor começar a fazer ruído, ele deve ser substituído logo, pois o calor gerado pelo rolamento danificado pode afetar o conjunto de embreagem eletromagnética e até a carcaça do compressor. (Foto 19)
Se houver ruído quando ligar o compressor, é possível que ele seja interno do compressor, neste caso é recomendada a sua troca. (Foto 20)
Também não devemos esquecer que ao trocar o compressor, a recomendação é limpar a tubulação (FLUSH com R141b) e trocar o filtro secador junto com o condensador (inteiro), pois o filtro secador fica embutido dentro do condensador. (Foto 21)
As válvulas de serviço são de fácil acesso, a de baixa, ao lado do reservatório de óleo da direção hidráulica e a de alta ao lado do pressostato. (Foto 22)
O eletroventilador fica posicionado na parte de trás do radiador de água e funciona com duas velocidades. A 1ª velocidade funciona sempre junto com o compressor ligado. Caso a pressão na linha de alta passe dos 17 bar a 2ª velocidade do eletroventilador é acionada.
O monitoramento da pressão do fluido refrigerante é feito por um pressostato de 4 pinos, na linha de alta. (Foto 23)
O sensor de temperatura de anticongelamento, fica posicionado na lateral da caixa evaporadora, atrás do porta-luvas, mas não costuma dar problemas. (Foto 24)
 O acesso ao filtro antipólen fica atrás do porta-luvas, é necessário tomar cuidado com o cilindro limitador da tampa do porta-luvas no lado direito da mesma e encaixa-lo na montagem.
Os modelos anteriores á 2006 não possuem filtro de partículas (antipólen), mas é possível adaptar o filtro, recortando a tampa do alojamento (Foto 25). A troca deste filtro é recomendada de 6 em 6 meses, dependendo da utilização do veículo.
A válvula de expansão tem seu acesso junto ao evaporador dentro do painel, mas é muito difícil ela apresentar problemas.
O evaporador pode até apresentar vazamentos por corrosão também, para trocá-lo é necessário retirar o painel. (Foto 23)
Os canos de alta e baixa tem uma conexão especial para ligação ao evaporador (Foto 24), é necessária uma ferramenta especial (Foto 25) para desmontar esta conexão com segurança para não danificá-la.
Em caso de colisão frontal os canos de alta e baixa pressões podem empurrar o evaporador contra a caixa de ventilação, causando rompimento do evaporador e quebra da caixa evaporadora. (Foto 26)
Alguns modelos podem vir equipados com sistema com controle digital, neste caso o ventilador interno é acionado por um módulo. (Foto 27)
No modelo com acionamento analógico, as portinholas são acionadas por cabos de aço.
O sistema de ar quente não possui torneira (válvula de ar quente) é controlado apenas por portinholas (damper).
É difícil encontrar um Corolla em oficinas de ar condicionado e suas peças são encontradas nas distribuidoras de peças especializadas.
Colaborou:
Mario Meier Ishiguro
ISHI Ar Condicionado Automotivo - Treinamentos
www.ishi.com.br

PEÇAS

“A meu ver, o Corolla é um carro ótimo e recomendo aos meus clientes sem pensar duas vezes”, disse Alcides.
“As peças mais corriqueiras como filtros, óleo do motor, discos e pastilhas de freios, compro das marcas mais tradicionais do mercado e isso acaba representando 80% da minha rotina de compra para o veículo. Somente 20% compro nas concessionárias”, relatou Alexandre.
“As demais peças que não pertencem a este grupo, compro a grande maioria em concessionárias numa proporção de 70%, sendo o restante em autopeças especializadas na marca”, completou Alexandre.
“Como trabalho em um segmento específico, o de transmissões automáticas, meu meio de compra é mais restrito. Assim, para este veículo compro 85% das peças em concessionárias e os 15% restantes em importadores. Nestas, o prazo médio para que o produto chegue é de 5 dias, já no distribuidor isso pode variar desde ter o produto a pronta entrega como termos de esperar mais de 10 dias por um componente. Na verdade tenho diminuído a compra nestes, pois antigamente a confiabilidade e a qualidade dos produtos eram maiores, mas hoje, em minha opinião, com a grande concorrência de preços, estes importadores começaram a adquirir peças de qualidade inferior e não tem sido vantajosa essa compra”, comentou Alcides.
O reparador Carlos comentou: “Adquirimos 70% das peças em concessionárias. As demais, só utilizamos de marcas de renome no mercado. Não temos dificuldades em encontrar tais itens, apenas ocorrem demoras na entrega, algo em torno de 5 dias”.
“Não arrisco comprar peças que não sejam originais. A diferença de preço para a paralela, se colocarmos na ponta do lápis, se torna pequena por conta do retrabalho que poderemos ter se esta vir a falhar. No caso de filtros, correias e afins costumo utilizar de grandes marcas. Com isso, minha rotina de compras fica em 85% em concessionárias e os outros 15% em autopeças”, completou Carlos.
Já Ricardo utiliza outro ponto de vista para definir qual tipo de peças aplicar nestes veículos: “Costumo sempre perguntar ao cliente qual a preferência. Dou esta opção e em 80% dos casos eles optam pelas peças originais. Já tentei aplicar peças paralelas mas o problema não é só qualidade, mas na verdade são diversos fatores que associados à baixa vida útil não tornam compensador utilizá-las”.

INFORMAÇÕES TÉCNICAS

“Um complicador da marca, assim como ocorrem com todas as outras, são as ferramentas específicas. Equipamentos de diagnósticos e sacadores de rolamentos, por exemplo, só são encontrados em concessionárias. Como trabalho em parceria com elas, não encontro tanta dificuldade, mas quem não tem este tipo de relacionamento passa por apuros”, disse Alcides.
“Os scanners atuais não são suficientes para efetuar um diagnóstico preciso, principalmente nas áreas de carroceria e transmissão. Isso também ocorre com os importados. Acredito que alguma dessas empresas devesse investir pesado nessa área e buscar e dispor no mercado tudo o que precisamos. Dessa forma, os clientes teriam a flexibilidade de que precisam e nós teríamos a autonomia que precisamos”, acrescentou Alexandre.
É o que também comentou o reparador Carlos: “Realmente esta é a dificuldade, pois a Toyota é muito fechada às informações técnicas, só por um milagre que conseguimos algo direto dela. Por sorte temos amigos na rede de concessionárias ou que já trabalharam nelas para nos ajudar. Quando não consigo assim, outra forma é comprar alguns manuais fora do Brasil. A internet é uma fonte muito boa, mas nem todas as informações que estão lá são confiáveis, porém nos ajuda muito. Fora isso, é tudo ‘na raça’ mesmo. Infelizmente não entendo esta postura das montadoras, mas fazer o quê?”.
O reparador Alcides confirmou esta situação: “As informações técnicas consigo através de parceria com concessionárias. Por ser antigo na região e demonstrar boa qualidade nos meus serviços, ganhei a confiança deles e hoje inclusive, me utilizam como terceirizado para serviços de transmissão automática. Isso permite que eu me favoreça de informações e eu os ajude com serviços na área”.
Já o reparador Carlos Augusto Bacelar mostrou outra realidade: “Como trabalho com estes modelos desde 2002 e dentro dos 40 veículos mensais que atendo 10% são da marca, já estou acostumado com eles. Quando preciso de alguma informação recorro aos colegas, pois nas concessionárias não consigo informação. O carro não requer tanta literatura e consigo me virar bem, pois tem uma construção muito simples e robusta”.
Robson disse: “Atendo em média 280 veículos por mês e destes, pelo menos 20% correspondem a esta marca. Também não tenho problemas para conseguir informações técnicas, principalmente porque a Toyota não costuma apresentar grandes alterações no projeto de um ano para o outro. É bem aquela coisa de ‘time que está ganhando não se mexe’. Utilizo meus contatos nas concessionárias para conseguir o que preciso, mas reconheço que quem não tem este vínculo tem a vida dificultada. Mesmo assim, quando não conseguimos estas informações através deles, recorremos ao Sindirepa, ao fórum do Jornal Oficina Brasil e a rede Ecocar à qual fazemos parte, onde todos estes nos ajudam muito. A troca de informações é produtiva, mas na hora do aperto, sua dedicação quanto ao aprimoramento técnico fará toda a diferença”.
Alexandre finalizou o tema com a análise correta deste cenário: “Passará o tempo, continuaremos a consertar os carros deles e sempre vamos fazer isso. Se fosse com a ajuda do fabricante e eles entendessem esta questão, seria muito melhor, pois tenho certeza que a nossa opinião perante o cliente é muito significativa e, tendo a nossa simpatia com relação à montadora, aumentariam as suas vendas. O carro é muito bom com certeza, mas deve haver essa parceria para que todos saiam ganhando”, comentou Alexandre.

VEREDICTO

O sedã japonês tem por principal benefício ser um carro ‘justo’, oferecendo aos consumidores o que eles precisam sem que para isso recorram a aplicação de tecnologias pouco testadas. Este é um ponto positivo, pois quando isso ocorre geralmente se torna um item de recorrentes falhas ao longo da vida útil do veículo.
Ao contrário do que costumamos ouvir, o Corolla não é um carro ‘inquebrável’, aliás, nenhum carro o é. O que o diferencia dos demais é não possuir defeitos recorrentes variados, sendo estes resumidos a trocas constantes de buchas da suspensão dianteira, desgaste nas engrenagens da caixa de satélites e dos eixos de tração, como vimos no decorrer da matéria.
O ponto negativo fica à cargo das escassas informações técnicas. As montadoras precisam entender que seus veículos visitam oficinas independentes e que estas precisam ser abastecidas de material técnico para executarem reparos adequados em seus veículos. Prova disso foi ouvirmos testemunhos em  que reparadores  relataram que em alguns casos, a informação só foi conseguida quando trabalharam em “parceria” com as concessionárias. Desse modo, quem não tem um relacionamento mais próximo a elas, não consegue de forma oficial conteúdos necessários para atuarem nos reparos.

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